Na semana passada esteve em Estocolmo para uma conferência sobre a Bielorrússia. Qual foi o resultado?
Discutimos muitas questões relacionadas com os presos políticos, a pressão sobre o regime, a assistência aos nossos meios de comunicação social, aos defensores dos direitos humanos, diferentes iniciativas. Como resultado, o governo sueco prometeu contribuir para o fundo humanitário destinado a libertar os presos políticos e as suas famílias. Falámos também com o ministro dos Negócios Estrangeiros sobre a oportunidade para jovens diplomatas bielorrussos ali estudarem, para que possam ter experiência nas suas instituições. Sinceramente, por vezes é difícil manter a Bielorrússia na ordem do dia, porque existem muitos problemas a nível mundial. Mas esta conferência foi uma expressão muito viva de apoio e solidariedade com a luta bielorrussa. E é uma mensagem clara para [Alexander] Lukashenko e para o seu regime de que o mundo democrático não os reconhece como um governo legítimo.
Vladimir Putin esteve em Minsk há alguns dias e sublinhou a importância de uma estratégia de defesa unificada com as armas nucleares táticas instaladas no seu país. A Bielorrússia é atualmente uma ameaça à segurança da Europa?
Enquanto Lukashenko estiver no poder criará sempre ameaças, não só para o povo bielorrusso mas também para a segurança de toda a região. Não temos de pensar que os ditadores podem ser apaziguados ou que os ditadores podem ser reeducados. Os ditadores só podem ser combatidos. E, claro, eles criam esta ameaça nuclear para chantagear os vizinhos ocidentais e mantê-los na incerteza. Será que vão usar ou não? A arma nuclear já existe na Bielorrússia ou não? O que significa esta visita de Putin? O que significa o treino conjunto russo-bielorrusso? É só para especular e para desviar as atenções do apoio à Ucrânia, por exemplo. E sim, fá-lo-ão e poderão criar novas ameaças aos nossos vizinhos europeus só para fazer chantagem.
O seu país e a Rússia têm um acordo de união de Estados. É possível que a democracia se instale na Bielorrússia enquanto Putin estiver no poder?
Em primeiro lugar, devo dizer que apenas 4% dos bielorrussos apoiam esta ideia de unidade russo-bielorrussa. A maioria dos bielorrussos quer que a Bielorrússia seja independente da Rússia, que seja um país soberano. Eles [Putin e Lukashenko] têm uma amizade simbiótica. Neste momento, precisam um do outro e estão a servir-se um do outro. Houve alturas em que Lukashenko tinha uma má relação com Putin, mas agora são aliados. Ouço muitas vezes que enquanto Putin não estiver no poder, Lukashenko não será derrotado. Mas estou absolutamente convicta de que não será assim. Não podemos estar nas ruas da Bielorrússia neste momento para dizer não a Lukashenko, porque a repressão é terrível. Mas o que podemos fazer agora é reforçar a nossa identidade nacional, não permitir esta russificação, não permitir que a Rússia invada as mentes das pessoas. Podemos reforçar as nossas instituições democráticas. Sim, neste momento estamos no exílio, mas temos muitas estruturas clandestinas dentro do país. Podemos reforçar a nossa sociedade civil, que foi destruída na Bielorrússia. E nenhuma nação, como nação, como um conjunto de mentes, pode ser subjugada se essa nação tiver um forte entendimento de que os bielorrussos não são russos. Não temos de olhar para o que Putin ou a Rússia vão dizer. Temos de compreender que é nossa obrigação desmantelar o regime. Não temos de pensar que temos de esperar até que Putin saia do poder e depois podemos fazer alguma coisa na Bielorrússia. Quer isto dizer que não devemos fazer nada? Claro que não. Temos de enfraquecer o regime neste momento e fortalecer o nosso povo. Agora temos esta tática das mil pequenas partes, enfraquecer o regime em diferentes aspectos. Atualmente, o regime de Lukashenko sente-se muito frágil. Talvez do exterior pareça muito forte, mas não é. Existe uma atmosfera de total desconfiança em relação a este regime. As pessoas têm medo de serem traídas pelos seus amigos. Lukashenko está a distribuir o pessoal à sua volta, está a fazer uma manta de retalhos no seu sistema. Mas penso que, neste momento, as pessoas sentem-se muito vulneráveis. Compreendem que não conseguiram que o povo bielorrusso voltasse a confiar ou a gostar deste regime. E agora Lukashenko nem sequer tenta fazer com que as pessoas gostem dele. Não se preocupa com elas. O que ele está a reforçar é apenas o seu aparelho de segurança pessoal, o sentimento de medo entre os bielorrussos. Penso que, para os portugueses, o que se está a passar na Bielorrússia pode ser compreensível se recordarem os tempos de Salazar. Estamos no século XXI, mas a ditadura, tal como vocês a sentiam, está na Bielorrússia.
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